1 de ago. de 2010

Uma noite de Segunda-Feira em Barcarena

Sebastião de Jesus Cardoso

Uma noite de Segunda-Feira em Barcarena

Eram exatamente vinte e duas horas quando saí de casa, localizada na Rua Três de Dezembro entre as travessas Jaime Dias e Frederico Vasconcelos no bairro Novo Um, em direção ao centro de Barcarena, estava escuro, o vento soprava forte e úmido no meu rosto, fui pedalando a minha bicicleta preta que mandei montar numa oficina de Bike do meu bairro, onde o dono confessou que ela havia sido montada a partir de peças de outras bicicletas, que segundo ele não foram roubadas do outro lado da cidade em um bairro chamado Vila dos Cabanos, - Isso é bem comum aqui!

Continuei indo em direção à beira do rio da cidade, seguindo primeiramente pela Rua Três de Dezembro, como de costume, tudo me parecia tranquilo demais. Ultrapassei a primeira esquina, a travessa Sete de Setembro e percebi que a malandragem que ficava ali, multando algum desavisado que passasse fora de hora, não estava mais lá. Pensei que seria por causa do tempo frio! Mas, para bandido, ladrão não tem tempo ruim não! Tudo tava muito estranho naquela noite de segunda-feira.

Agora estou passando bem em frente ao bar de um senhor gordo muito bom jogador de bilhar, o cara é uma lenda viva na sinuca! O local e ele são conhecidos como “O Miguel Moreira” é um bom lugar para tomar uma gelada! Está localizado na esquina da rua de minha casa com a Avenida Magalhães Barata – A principal, o mais assustador é que neste horário este estabelecimento dionisíaco barcarenense ainda está aberto, porque, os garçons estão a varrer o ambiente e mandando os bêbados para fora de lá. Porém o expediente já havia encerrado.

Dobrei pedalando rápido na Principal em direção da “Beira”, - É como chamamos a parte da cidade onde fica o centro comercial, a prefeitura, igrejas, feiras, supermercados e a praça, típico de cidades pequenas, então, passei pela frente da casa do prefeito que fica próximo do bar do Moreira e olhei para dentro da casa e o vigilante, provavelmente estava dormindo, haja vista, que ele não estava sentado em sua cadeira em frente ao portão.

Tudo muito quieto de mais! Comecei a ir mais rápido, quando passava pelas esquinas já não olhava mais. A cidade começava a ficar mais calma e silenciosa, era como se eu estivesse sozinho em um meio urbano desértico. Onde estão as pessoas? Onde está todo mundo?

O meu pensamento dizia para eu sair deste lugar macabro onde só a brisa e a solidão eram a companhia de um homem. Isto é uma cidade? Penso que as cidades devem ter uma vida noturna, com muitas luzes, bares, festas, sexos, bebedeiras, brigas, drogas, polícia, carros, supermercados e farmácias vinte e quatro horas, shopping Center abertos até tarde da noite e ruídos – barulhos de todos os jeitos, mas, em barcacity (apelido virtual de Barcarena) nesta noite só se ouve os zumbidos de grilos, corujas e os cachorros, estes em Barcarena estão em todas as partes e geralmente latem por qualquer movimento nas ruas, Deleuze iria odiar passear pelas ruas desta cidade, por causa dos latidos dos cachorros, porém, nesta noite em particular até os cães estavam em silêncio, nenhum deles latiam para mim. Isso é Preocupante! Eles são os nossos alarmes contra assaltantes, se os pulguentos latem, é porque tem alguém na rua, por isso, é de ordem dá uma olhada se for algo suspeito, então, se possível deve-se correr, mais correr muito!

Em meio a tais pensamentos, estava me aproximando da caixa d’água da cidade e do hospital que fica na travessa Santo Antônio, paralela à Principal, depois de alguns instantes, retirei o celular do bolso, eram vinte e duas horas e sete minutos, neste momento estava bem em frente a um dos bancos presentes no município, precisava de grana, mas, deu vontade de chamar um palavrão! – em cidade pequena o caixa eletrônico, também, dorme cedo!

Circulei pela praça onde havia vários quiosques que viviam cheios de vendedores e drogados e outros loucos granados com os seus carros com som automotivo com o volume esfolado, com seus tecno bregas, mélodes e bregas da saudade infernizando a vida da “classe nobre de Barcarena” e dos intelectuais que gostavam de ir ali. Isso era engraçado!

Espantei-me! Não tinha viva alma na praça da beira, desta forma, direcionei-me agora para Av. Cronje da Silveira, passei em frente a outro banco, o caixa também se encontrava fechado, dei um leve olhar em direção ao prédio da prefeitura que parece até menor que a casa da minha mãe e fui em direção a Frederico Vasconcelos rapidamente e pedalei, mais veloz ainda, até chegar novamente em casa. - Que noite mais estranha, para uma cidade barulhenta e irritante!

Nunca mais esquecerei esta noite de segunda-feira de silêncio e tranquilidade em que Barcarena resolveu dormir cedo. E dormia profundamente o sono de seu atrofiamento urbano. Foi muito bom percorrer suas ruas calmas e serenas que revelaram outro lado da cidade, uma cidade calada que descansava em seu mundo de esquecimento e de sonhos que não podia suportar ter ninguém querendo sacar dinheiro, naquele horário, para viajar de lancha às cinco horas da manhã para Belém do Pará. Sacanagem!

Já meio estressado Guardei a bike rapidamente e de repente surgem na esquina três cavalos andando suavemente sem fazer barulho comendo capim da frente dos quintais e curtindo a noite silenciosa de segunda-feira, passaram em frente de casa despreocupados com a vida, então, respirei e me acalmei, porque, pelo menos iria dormir bem, visto que, iria viajar só depois das nove da manhã do dia seguinte! Que noite bacana!


Texto apresentado à disciplina Arte no Espaço Urbano

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